O cristão e o dízimo
Quando falamos de mordomia cristã, muitos pensam apenas na questão do dízimo.
A partir de leituras do Antigo e do Novo Testamentos, alguns podem dizer que é necessário dar o dízimo, outros que é errado...
Diante disso, a mensagem de hoje será um pouco mais longa que as que normalmente enviamos, já que não seria prudente "dividir" o tema, pois isso poderia gerar interpretações diferentes. Escrevendo tudo junto já corremos esse risco, imagina se dividir...
Vou dizer como vejo a questão:
É fato que a questão do dízimo é ligada com o Antigo Testamento e com a Lei. A não ser na fala de Jesus para Judeus nos Evangelhos, não vemos no Novo Testamento a recomendação da necessidade de dar o dízimo. Não nos esqueçamos do que nos diz João: Jesus veio para os seus, mas esses não o receberam, e preferiram entregar Jesus para a morte de Cruz. Agora, a todos que o receberam (e continuam recebendo), crendo no Seu Nome, receberam o poder de se tornarem filhos de Deus (João 1.1-14)! Logo, durante Seu ministério, Jesus sim ainda fala com Judeus! Esse é um fato importante na interpretação Bíblica! Era para os seus! Até mesmo a mulher cananeia (siro-fenícia) tem problemas para alcançar resposta ao seu pedido, porque ainda era tempo "dos da mesa" (Mateus 15.21-28). A sua fé mudou a situação...
Pronto... alguns já estão pensando que eu sou contra o dízimo... Continue lendo... não haja como se faz hoje em dia: apenas faz a leitura do título e algumas partes e já chega a uma conclusão...
Mas você pode estar pensando: esse é o argumento dos que são contra! Então... Calma... continue lendo...
Não podemos perder de vista a questão de que Jesus falava para os judeus, para os seus. Quando os seus não o receberam, aí a ordem é definitiva: ir até os confins da terra (Atos dos Apóstolos 1.8). Antes, já se atendida alguns casos, mas a prioridade era as "ovelhas perdidas da casa de Israel"... Isso é importante até mesmo para entender a questão da Volta de Jesus, pois há um momento que é dito que vem como um ladrão e outro, com muitos sinais. E "ladrão dá sinais"? Como conciliar isso? Uma chave de leitura é essa: entender quando a mensagem se destina aos judeus e quando é ampliada para todos... Mas esse não é o tema da atual mensagem...
Apenas precisamos deixar claro que não devemos simplesmente esquecer o que Jesus disse, por Ele ter falado ainda aos seus, pois muita coisa do que Jesus falou, já apontava para a Graça! Há o que Ele falava e apontava para os seus, para um ajuste na interpretação da Lei, ampliação da forma de observar as coisas, e que permaneceu para os seus. Mas Jesus tinha consciência de Sua Missão e que os seus iriam negá-lo! Assim, Ele já aponta para o que viria depois, que é a Mensagem ser espalhada para todos! Dessa forma, não devemos deixar nem o Antigo Testamento nem o que Jesus falou para judeus de lado! Apenas precisamos saber como agir: não devemos nos preocupar com fazer algo para receber algo, mas devemos fazer porque já recebemos, mesmo antes, mesmo quando ainda estávamos em pecado! Vamos ampliar a explicação mais adiante.
Paulo nos diz que tudo é lícito, mas que nem tudo é conveniente (1 Coríntios 6.12). Isso derruba qualquer "regrinha" ou "listas de pode ou não pode", pois o que não é conveniente para mim, pode ser conveniente para você! Todos são, de fato, missionários, mas nem todos deixam tudo para ir para o campo missionário viver como tal. E ainda que pareça certo fazer isso, se o propósito do Senhor para você é outro, ir para o "campo" não será conveniente para você. É conveniente para quem deve ir, e quem deve ficar, será missionário de outra forma... Pense nisso sobre qualquer assunto e amplie a sua visão sobre a Graça de Deus! A questão não é se é "certo ou errado", mas se é conveniente ou não. Algumas coisas, não são convenientes para ninguém, é fato, mas a Graça deve nos levar a pensar para além do "certo ou errado" em outras coisas...
Paulo ainda nos diz que quem aceita a circuncisão, tem que seguir toda a Lei (a discussão permeia toda carta aos Gálatas. logo, é bom ler toda a carta, mas leia especialmente o capítulo 5). Muitos pensam que a questão era meramente a circuncisão. Mas não era! Se era, por que o Concílio de Jerusalém não decide apenas que não se deve circuncidar, mas recomenda que não se coloque o peso da Lei sobre os gentios, a não ser a recomendação de quatro coisas, que no fim, principalmente fazendo ligação com as Cartas de Paulo aos Coríntios, apenas seriam seguidas mesmo quando perto de Judeus convertidos? O Conciilo de Jerusalém está em Atos dos Apóstolos 15! Se era só a questão da circuncisão que se exigia dos gentios convertidos, bastava dizer que não era para circuncidar. Mas não! Há todo um conjunto de recomendações, o que nos ajuda a entender que a questão da circuncisão era a "porta de entrada". Sem isso, nem eram considerados! Mas depois disso, viriam as demais coisas que ainda eram aceitas e praticadas pelos judeus convertidos. Mas... a decisão foi que aos gentios isso não fosse imposto!
Ampliando a ideia de Paulo em Gálatas, podemos entender que se for para seguir um aspecto da Lei, devemos seguir a todos! E o que seria "seguir um aspecto da Lei"? Esperar que, ao fazermos algo como ordenança, recebemos o benefício do Senhor. E que se não fizermos, estamos no erro e recebemos "maldições". Quando, em Jesus, somos salvos por Graça, pela Fé e diante dessa salvação, buscamos viver de acordo com a orientação do Espírito Santo, que nos orienta a fugir do erro, não por regras, pois se for por regras, fazemos algo e devemos ter nossos méritos dessa ação. Não recebemos nada por fazermos algo, pois se fosse assim, ainda seguiríamos apenas a Lei! Não conseguimos isso! É preciso a Graça em Jesus, pela Fé!
Mesmo deixando claro que o pecado é conhecido por conhecer a Lei, Paulo deixa claro também que a Lei não é ruim. É a vontade do Senhor! Como seria ruim? Mas nós não conseguimos agir de forma adequada com relação a essa Lei e se não confiarmos na Graça, se acharmos que podemos fazer algo para mudar essa realidade, a não ser pela Fé no Filho de Deus, através de qualquer ação nossa, iremos perecer, pois não conseguimos sem a Graça. Não vou repetir toda a carta de Paulo aos Romanos... A questão não está na atitude de realizar algo que a Lei define! O problema está em fazer isso achando que pode conseguir o benefício que seria dado ao cumpridor da Lei. Devemos fazer a vontade do Senhor, apenas isso, não devemos nos preocupar em receber nada mais, pois por Graça, através da Fé no Filho de Deus, já recebemos tudo!
Logo, não fazemos mais nada para receber algo... Já recebemos! E, orientados pelo Espírito Santo, fazemos a vontade do Senhor, não esperando outras tantas bênçãos ou quebras de maldições. Afinal, Jesus se fez maldição e levou até essa de nós (Gálatas 3.13). Qualquer maldição por não cumprir a Lei, JESUS LEVOU NO MADEIRO!!!
Dessa forma. não damos o dízimo para aplacar a maldição, Essa Jesus já levou no madeiro! Essa era realidade para quem devia fazer algo, cumprir a Lei, para receber algo. Para nós, não é assim! A não ser que você dê o dízimo para aplacar essa maldição... Aí, você está cumprindo a Lei! E não é errado! Só que isso anula o sacrifício de Cristo e, para ter sua salvação sem esse sacrifício, seria necessário cumprir toda a Lei...
Não acho errado "dar o dízimo". Acho errado achar que vamos ter bênçãos ou maldições por fazer ou deixar de fazer isso. Essa é a Tese da Lei! Na Graça, fazemos, mas não por receber mais ou menos, mas porque já recebemos, em Cristo! Para judeus convertidos, pode se aplicar ainda cumprir alguns aspectos da Lei, seguindo as recomendações de Atos dos Apóstolos 15 e da carta aos Hebreus, por exemplo. Há coisas que não são necessárias nem aos Judeus Convertidos! Mas Paulo mesmo, ainda que lutasse pela liberdade e vivesse essa liberdade, ao se aproximar de Judeus, ainda observava alguns dos aspectos da Lei (leia Atos dos Apóstolos). Mas os gentios convertidos, não precisam disso...
E quem segue a direção do Espírito Santo não precisa dar um valor fixo... Esse que segue a orientação do Espírito, saberá ouvir e dar o que for necessário (de acordo com o seu coração, transformado e orientado pelo Espírito e com alegria, como orienta Paulo). Pode dar o dízimo, se isso estiver em seu coração! Mas não para aplacar qualquer maldição ou para receber bênçãos, pois isso já temos apenas e tão somente pelo Sacrifício de Jesus! Só temos que aceitar esse sacrifício como único e suficiente para desfrutar do que nos dá o Senhor. Se o Senhor diz para dar um percentual dos seus vencimentos, dê! É isso que o Espírito está orientando para você. Se o Senhor orienta a dar mais, dê mais! Não faça por obrigação, mas com alegria no coração, pois o Mordomo não entrega para o Dono apenas um percentual do que é Dele... O Mordomo entrega tudo, pois tudo é do Dono... E o Mordomo não sente falta de nada... Essa é a verdadeira ideia da Mordomia Cristã!
Insisto: não é errado dar o dízimo! O erro é querer algo em troca. Isso era coisa da Lei. Jesus cumpre a Lei e nos alcança por Graça. Não precisamos fazer as coisas para ter algo em troca! Basta aceitar a Jesus como único e suficiente salvador, confessar com os lábios e crer com o coração (mostrando com atitudes que aceita isso em sua vida, pois aquele que vive a vontade do Senhor, mesmo que não diga uma palavra, mostra com atitudes essa realidade, não para ter algo em troca por viver assim, mas por já ter recebido tudo). Quem faz o que orienta a Lei, não faz errado, pois essa era a vontade do Senhor e receberá o que a Lei define a partir da ação com base nela. Só que isso não irá mais permitir o testemunho de que Jesus é único e suficiente para a sua salvação, mas a sua atitude será necessária! Se você fizer com a motivação da Lei, passe a estudar todos os seus aspectos (pelo menos, os que os judeus convertidos ainda precisam fazer, para manter a identidade de sua condição de Judeu). Não é errado fazer isso, mas pode ser necessário fazer outras coisas também... Eu prefiro confiar em Jesus! E dar com alegria, se um percentual, se mais do que 10%, não importa: não dou pensando em receber algo em troca... já recebi tudo, na Cruz e na Ressurreição do Senhor!
Forte abraço!
Em Cristo,
Ricardo, pastor